sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Ainda as empregadas


Li hoje um artigo de opinião n’O Clarim, jornal da Igreja Católica de Macau, onde o seu autor tece considerações sobre a situação das empregadas domésticas em Macau. Não é a natureza do artigo que me chamou a atenção, pois as questões que se levantam são bastante pertinentes, mas o desconhecimento da realidade local por parte do seu autor.

Uma passagem deixou-me especialmente perplexo: “(...) Se cada empregada pode apenas trabalhar num local, quer dizer que em Macau terá de haver, pelo menos, uma empregada por cada agregado familiar que tal precise! Digamos que sejam 10% da população, o que equivaleria a, mais ou menos, 50 mil empregadas domésticas. Estes números são completamente irrealistas e facilmente se depreende que não é o que acontece. Isto revela simplesmente que muitos de nós andamos «fora da Lei», pois, como não será difícil compreender, nem todos precisamos de empregadas a tempo inteiro”.

Assim mesmo. Na realidade, o autor do artigo refere-se às empregadas filipinas e indonésias, aquelas que no território mais têm “ar de empregada”, portanto. Digamos que existem 50 mil empregadas domésticas em Macau. Na verdade, até existem, só que apenas sete ou oito mil são filipinas ou indonésias, sem contar as eventuais ilegais.

Existem agregados familiares que têm uma empregada, às vezes em regime de stay-in, que são residentes de Macau, que não têm sítio nenhum para ir, e por isso vão vivendo assim. Existem ainda empregadas da China continental, algumas que vêm trabalhar a Macau e regressam a Zhuhai no fim do dia. Existe ainda um acréscimo no número de empregadas vietnamitas, e até já conheci algumas da Malásia e do Cambodja. Existem tantas modalidades de "empregada doméstica" que descrevendo aqui ia dar pano para mangas.

Principalmente existem algumas senhoras chinesas de Macau que sendo domésticas, nunca tendo trabalhado e dependendo do salário do marido não se importam de passar a ferro ou tomar conta dos filhos dos outros para ganhar uns cobres. Conheço algumas que tomam conta da mercearia da vizinha, lavam escadas de prédios ou despejam o lixo das escolas, ou ainda outras que andam ao cartão. Tudo isto na minha rua! É verdade que nem toda a gente precisa de empregada a tempo inteiro, e em alguns casos não precisa de empregada de todo.

Quanto à questão dos pagamentos mencionada pelo autor: “Por um lado, as empregadas só podem trabalhar num local e recebem um salário que quase não dá para viver”. É assim: a lei não obriga a que se pague 2500 patacas por mês à empregada. Eu pago mais do que isso à minha, mas esta é uma questão de trabalhar e pagar pelo que é justo. Conheço casais que pagam 5000 patacas à empregada só para tomar conta dos idosos, o que sai mais barato e humano do que interná-los num lar da terceira idade (um lugar triste para onde vão pessoas sem esperança).

Também a esse respeito, as empregadas podem gozar folgas ou férias quando os patrões entenderem, e não necessariamente os tais seis dias úteis e Domingos estipulados no contrato. A minha empregada, por exemplo, almoça e leva jantar cá em casa todos os dias, e muitas vezes dou-lhe folga aos Sábados, se não há nada para fazer. Penso que ela reparte o apartamento com duas ou três camaradas, e paga uma fracção irrisória da renda de casa. Ao Domingo ela e as camaradas contentam-se com umas jolas, uns amendoins, uns karaokes, ou aquelas excelentes festas de aniversário filipinas onde eles conseguem fazer coisas deliciosas com pouco dinheiro.

Uma filipina que consiga mandar para casa mil patacas por mês, isto significa qualquer coisa como seis ou sete mil pesos filipinos, o que lá é considerado mais dinheiro que o leitor pode imaginar. Dá de comer a quatro ou cinco bocas durante um mês inteiro, e na Indonésia desconfio que a taxa cambial e o custo de vida sejam idênticos.

Por falar em "part-times", no que às filipinas e indonésias diz respeito, penso que sendo o autor do artigo, que escreve para o jornal da Igreja Católica, muito provavelmente não frequenta os mesmos locais de diversão nocturna dos restantes leitores do Bairro do Oriente. Tanto nas Docas como nas discotecas da moda, as Gatas Borralheiras transformam-se como do próprio dia para a noite. E quem vai contabilizar estes rendimentos? Isto para não falar das empregadas que casam com o patrão, se este for solteiro, ou qualquer outro gajo que lhes dê um cartão de residente não-permanente, e resolvem todos os problemas.

Garanto que se a situação fosse explosiva ou tivesse a gerar um grande descontentamento na sociedade, já tinha sido resolvida. Os patrões estão contentes, as empregadas desenrascam-se, e quem fica a perder na verdade são os estabelecimentos que não conseguem suportar a mão-de-obra local e precisam de recorrer à não-residente, e as cotas são-lhes negadas. A tal multa de 50 mil patacas para o sponsor infractor não foi feita a pensar nos tugas que pedem a empregada emprestada ao amigo para lhe passar as camisas a ferro duas vezes por semana.

Claro que a manutenção deste estado de coisas tecnicamente “ilegais” é uma decisão puramente política. Fiscalizar e punir actos como a prostituição e o pequeno-trabalho ilegal vão trazer mais desemprego, mais miséria, mais descontentamento, eventualmente mais criminalidade. É preciso não esquecer que nem tudo o que é ilegal é um crime, e nos dias que correm somos chamados “criminosos” com muita facilidade.

17 comentários:

  1. "É preciso não esquecer que nem tudo o que é ilegal é um crime, e nos dias que correm somos chamados “criminosos” com muita facilidade".

    Caramba! Eu não diria melhor! Já aqui o dei a entender, e o Leocardo nunca me apoiou abertamente (talvez para agradar a gregos e a troianos). Desta vez, sim, disse o que lhe ia na alma (espero) e que desde sempre me vai na alma também a mim. Ilegalidade é uma coisa, crime é outra. Por muito que os néscios não o consigam entender.

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  2. Claro que é o que me vai na alma. Sempre defendi que nem tudo o que é ilegal é um crime. Obrigado pelo comentário e um abraço.

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  3. E já ouviram falar em ética?

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  4. Já cá faltava a etiquética...

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  5. o Leo deve estar a comer a tua empregada filipina, pois não para de proteger as empregadas filipinas...

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  6. "Devo andar a comer a minha empregada", é a conclusão que o anónimo das 20:09 tirou deste post. Era mais engraçado se o lesse primeiro, pois se calhar fez uma leitura vertical, não gostou do tema e resolveu insultar. Assim parece mais valente, o "ome".

    Cumprimentos.

    PS: Não tenho ética e não sei o que isso é.

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  7. gostos não se discutem...

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  8. Este post revela a índole fascista que perpassa por este blogue de merda. Parasitas!

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  9. li o post em horizontal, em vertical e em transversal. apenas posso concluir que o leo adora comer empregadas filipinas

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  10. Isto não é bem assim,tenho 1 amigo lá em Macau que tem uma criada,ele paga cerca de 3500 patacas se nao me engano,mas a criada tem comida,e alojamento de borla e nao tem que pagar mais nada a casa.Portanto resta 3500 patacas para ela usar no que bem entender.Não é assim tao pouco.

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  11. E eu pago 4000 pelo seu horário normal de trabalho, pago horas-extra quando preciso dela mais tempo, e ainda tem um mês de férias com viagem paga às Filipinas. Tudo somado (trabalho normal e horas-extra, ganha em média 5000 a 6000 patacas por mês, apesar de eu ganhar menos do que a maioria dos portugueses em Macau. Pode haver muitas leis, mas ainda não há nenhuma que nos impeça de pagar salários justos.

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  12. o leo é que paga à empregada filipina para serviços extraordinários...

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  13. em hotel Lisboa, cada visita paga $1500...ou seja o Leo esta a pagar pouco A empregada...

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  14. No Hotel Lisboa é 1500$? Percebe-se, aquilo é material topo de gama.

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  15. puxa!então o leo está a comer em saldos!

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  16. Hilariante. Perdi 10 quilos de tanto rir.

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  17. No Hotel Lisboa é 1500$???mas com que putas é que tu vais?Eu vou lá e por 800 patacas vou com uma puta bem boa.Foste enganado certamente.

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