A gripe deixa-nos malucos

A pandemia da gripe A vem trazer ao de cima tudo o que há de mau em nós. Em Portugal, e apesar dos responsáveis de saúde terem garantido que vão haver vacinas de Tamiflu em número suficiente para todos, discute-se agora "quem vai ser primeiro", como quem discute "quem é indispensável à nação". Dois deputados, um socialista e outro bloquista, já vieram a público dizer que os governantes devem ser os primeiros, pois é deles que depende a governabilidade do país. Isso agora dava pano para mangas, falar da falta que os políticos fazem ao país. É a facilidade com que se propaga a gripe e sobretudo as notícias que dão contas das mortes, aliados à aproximação do Inverno, que fazem com que se viva um estado de semi-paranóia. Ninguém fala das pessoas que contraíram o H1N1, que recuperaram e hoje estão bem. O que é mesmo notícia são as escolas e as creches que fecham em massa. Todos conhecemos pelo menos meia dúzia de pessoas que contraíram a gripe, e hoje estão como se não tivesse passado nada. Mas os noticiários só falam de doentes crónicos que faleceram e casos raros em que não existia um quadro clínico prévio. Muitos dos que diziam que não iam tomar a vacina contra a gripe sasonal são os primeiros a entrar na fila para a vacina da Gripe A, apesar dos médicos terem aconselhado a tomar a primeira antes de tomar esta. Agora discute-se a quem faz a vacina mais falta, com aquele medinho típico de morrer da doença da moda (também foi assim com o SIDA), quando a lógica nos diz que devem ser grávidas, crianças e idosos primeiro. E o pior ainda está para vir, quando a vacina chegar ao mercado e aparecerem os chicos-espertos e as suas senhoras às portas dos centros de saúde a tentar justificar poruqe a sua vida vale mais que a do vizinho. Esta gripe faz-nos perder o tino. A gripe deixa-nos malucos.